A ideia de que a classe política sai de uma eleição já pensando na próxima se impõe no Brasil pelo próprio calendário eleitoral, com escolha de representantes a cada dois anos. Desta forma, o cronograma partidário fica claro, sendo um ano de eleição seguido de um ano de articulação e assim por diante, sucessivamente, como explica o doutor em Ciência Política pela UFPE (Universidade federal de Pernambuco) Arthur Leandro.
"O processo eleitoral tem caráter permanente no Brasil, a eleição nunca cessa. Temos uma janela eleitoral muito curta, com eleição de dois em dois anos. Na prática, isso estabelece que um ano é de eleição e o outro de articulação. Assim que termina a eleição, fecham as urnas e os atores já se articulam para a eleição seguinte", explicou o professor.
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Em 2021 não temos eleições, mas os partidos já começam a reunir lideranças para deliberar sobre o futuro. É o caso do PT em Pernambuco, que no último dia 28 de março aprovou resolução deliberando o caminho a ser seguido para a disputa eleitoral de 2022. A legenda definiu que as decisões serão tomadas em conjunto com a Direção Nacional para "buscar construir o maior número possível de alianças das forças progressistas nos Estados".
O cientista político Antonio Henrique Lucena, da Universidade Católica de Pernambuco, destaca que as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo o ex-presidente Lula movimentaram o cenário politico. "Neste primeiro momento, não estão trabalhando a militância, são as elites partidárias que estão se movimentando, principalmente, depois que o STF julgou a vara de Curitiba incompetente no caso de Lula. Isso fez uma movimentação do tabuleiro acontecer. Rearranja a possibilidade de alianças entre PT e PSB", comentou.
No caso do PT, a expectativa gira em torno de uma candidatura própria ao Governo de Pernambuco, ou um retorno à Frente Popular, caso isso seja visto como melhor estratégia para fortalecer a candidatura do partido à nível nacional, que pode ser de Lula. A legenda já fez isso em 2018, quando deixou Marília Arraes ensaiar uma candidatura ao governo, mas acabou apoiando Paulo Câmara e rifando a candidata.
Para este ano, o PT vai fazer uma campanha estadual de filiação, segundo Doriel Barros, presidente estadual da legenda. "Vamos organizar o PT em todo o Estado, vamos buscar fazer esse trabalho esse ano de organizar as chapas proporcionais", comentou.
DEM
Outro que deu início nas tratativas de 2022 foi o Democratas. No último dia 19, o partido realizou encontro para planejar os rumos da legenda no Estado. Participaram o deputado federal Fernando Filho e os deputados estaduais Antonio Coelho e Priscila Krause com Mendonça Filho, presidente estadual do DEM. Os integrantes classificaram o evento como "marco inicial" do debate interno.
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“O encontro marcou mais um importante passo do Democratas em Pernambuco no sentido de preparar o partido para as eleições do ano que vem”, complementou Priscila Krause. De acordo com Mendonça, inicialmente. os partidários com mandato foram chamados para o debate sobre suas candidaturas visando a reeleição.
PSB
Fazer reunião com militância se tornou um desafio em meio à pandemia. Assim, o presidente do PSB no Estado, Sileno Guedes, disse estar focando no trabalho remoto. "Estamos conversando em rodízios de reuniões regionais, lideranças para o Recife de forma escalonada e a partir do conjunto de informações vamos definindo se vai até o município. Então, não da para fazer os eventos, a Agenda 40, embora a gente esteja na formação da militância de forma remota", disse.
PSDB
Os tucanos também se movimentam em Pernambuco neste ano. O PSDB tem uma nova presidente no Estado, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, que pode ser candidata a governadora, e correu atrás de filiar um nome tradicional da política pernambucana: o ex-senador e ex-ministro Armando Monteiro Neto. "Armando chega com a missão de contribuir nacionalmente, preparando o partido para as eleições de 2022”, destacou o presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, no dia da filiação.
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"Já estamos fazendo contatos, mapeando lideranças. Nós tínhamos todo o time do PTB, tem os candidatos naturais do PSDB, que vão certamente integrar as chapas proporcionais e gente que era do nosso grupo no PTB e disputou eleição, mas ficou sem mandato", explicou Armando sobre o trabalho que iniciou no partido.
Os tucanos podem ter apoio do Cidadania, de Daniel Coelho, no próximo ano. O presidente nacional do partido, Roberto Freire disse, na última semana, que a legenda deve apoiar a candidatura de Raquel Lyra ao governo do Estado em 2022. “Se ela vai ser candidata, não sei, mas tem chances”, comentou Roberto à Rádio Clube AM. Para ele, se João Doria (PSDB), governador de São Paulo, disputar a Presidência da República, Raquel ganharia maior visibilidade para disputar o Palácio do Campo das Princesas. “O candidato nacional vai, de qualquer forma, induzir que sua aliança nacional se reflita nos estados”, disse.
Prefeitos
Outros possíveis candidatos a governador da oposição como Miguel Coelho (MDB) e Anderson Ferreira (PL) também estão se mexendo. Ambos estão se reunindo com lideranças políticas e buscando protagonismo político quer vá além dos limites de seus municípios.
Anderson, por exemplo, mesmo sendo prefeito de Jaboatão, estava ouvindo demandas de lideranças do Agreste na última semana. Miguel segue na mesma linha e, recentemente, chegou a fazer um giro pelo Grande Recife trocando experiência com outros prefeitos. Ele já esteve com Yves Ribeiro, em Paulista, Célia Sales, em Ipojuca, e com Keko do Armazém, no Cabo. Todos venceram candidatos do PSB na última eleição.
Nas discussões que tomam início, a oposição deverá chegar ou não a um consenso sobre quem será o candidato a governador, se serão um ou dois, algo que a sigla enfrentou dificuldades em bater o martelo, nas últimas vezes que tentou vencer o PSB no Estado e no Recife. "A fragmentação da oposição favorece o PSB, isso já foi visto em outras eleições e será assunto discutido pelos membros desse grupo", comentou Antonio Lucena.