As lideranças de oposição ao governo Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco reagiram à vinda do ex-presidente Lula ao Recife, que simboliza o ensaio que o PT e o PSB fazem de retomada da aliança tendo em vista as eleições de 2022. Não faltaram críticas à reaproximação dos dois partidos, que romperam na eleição do Recife em 2020, mas tem um longo histórico de parceria na gestão do estado e da capital.
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Um dos primeiros a se manifestar foi o ex-ministro da Educação Mendonça Filho. Na sua campanha a prefeito do Recife em 2020, ele costumava lembrar da participação do PT nos governos do PSB e vice versa, tanto na gestão do estado como da capital.
"O histórico do PSB é que eles sempre se escoram em um cenário externo a Pernambuco. Quando foi útil para o PSB condenar o PT como fizeram, de marchar com a oposição na eleição de Aécio contra Dilma (2014), eles fizeram isso. Quando foi interessante para o PSB se alinhar em favor do impeachment de Dilma (2016), eles fizeram isso. E quando foi conveniente o PSB trabalhar ou atuar lado a lado com o PT, como nas eleições de Lula e na primeira de Dilma (2010) e agora que eles começam a se aproximar, é também tudo na base da conveniência", disse o democrata.
Ele encerrou a sua agenda do domingo com um jantar no Palácio do Campo das Princesas na presença de socialistas e petistas, inclusive o prefeito do Recife, João Campos (PSB). O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Julio (PSB), cotado como nome do PSB para disputar o governo, foi ausência sentida.
Na segunda-feira (16), o líder petista se encontrou com dirigentes partidários ligados ao Centro, cujos nomes estão cotados como pré-candidatos ao Senado pela Frente Popular de Pernambuco, entre eles os deputados federais André de Paula (PSD), Silvio Costa Filho (Republicanos) e Eduardo da Fonte (PP).
“A amplitude do diálogo com os partidos de centro tem algo em comum, pelo fato de estarem no plano local coligados com o PSB, estão dentro da aliança governista do Estado. Como eles pretendem reproduzir essa aliança no próximo pleito, é natural que com a vinda de Lula, que é um eleitor importante para Pernambuco, houvesse um interesse destes partidos e até do próprio Lula”, avalia o ex-senador Armando Monteiro Neto (PSDB).
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Estratégia
Os oposicionistas ouvidos pelo JC negam que possa haver alguma mudança de estratégia do grupo de oposição considerando a retomada da aliança entre PT e PSB. O grupo ainda não cravou se vai se concentrar em uma candidatura única ou em mais de um nome para a disputa ao Governo de Pernambuco.
Até então, são cotados o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL).
“A oposição deve estar unida em um candidato só, talvez dois, um candidato de centro-direita e outro mais bolsonarista, mas vamos ver o que acontece. A oposição tem que estar preocupada em apresentar os melhores nomes no ano que vem. Acho que o jogo da esquerda é o jogo deles e a gente tem que se preocupar com o nosso", diz o líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Antonio Coelho (DEM).
Segundo Armando Monteiro Neto, os partidos que estiveram juntos nas últimas eleições, devem repetir a aliança tanto da base governista - chamando atenção para partidos que estão com o presidente Jair Bolsonaro no plano nacional e estarão fazendo aliança com o PT e o PSB no plano local - quanto da oposição. “A oposição também pretende reproduzir a aliança com os partidos que estavam no mesmo campo como o PSDB, o DEM, o Cidadania, o PSC e o PL, não vejo nada de inusitado”, afirmou.
Outro ponto avaliado pelo ex-senador, é que para o grupo definir uma mesma estratégia, isso não significaria que ela não possa tratar do lançamento de mais de uma candidatura para a majoritária estadual. “O que pode acontecer é que a oposição tenha mais de um candidato. Por causa desse alinhamento com o plano nacional, que influencia as eleições estaduais, mas não é fator determinante. E esses partidos irão se reunir no segundo turno. Acho que o importante agora é a oposição dialogar e ter maturidade para fazer a construção”, declarou.
O deputado federal e presidente estadual do Cidadania, Daniel Coelho, também enfatiza que não há mudança de estratégia, porque já dava como certo esse movimento entre os partidos de esquerda desde 2020. “Para mim não muda nada. O PT nunca saiu do governo. Então, nunca trabalhei com outro cenário”, afirmou.
Eleição do Recife
Os líderes da oposição também fazem questão de lembrar a rivalidade construída na eleição do Recife entre João Campos e a então candidata Marília Arraes (PT), especialmente no segundo turno, quando o prefeito eleito apostou no antipetismo. “A máscara cai do PT e do PSB em Pernambuco e todo um enredo que foi forjado durante a campanha se desmonta”, resume Mendonça.
"O prefeito João Campos se desmoraliza a medida que vai dar ‘murinho’ com Lula e Paulo Câmara quando na campanha todos viram a propaganda na televisão do PSB inclusive com um avião lotado de políticos condenados no Mensalão, Petrolão e na corrupção, que foi a maior da história no governo do PT, supostamente chegando no Recife a medida que Marília pudesse ser eleita prefeita do Recife", completa o democrata.
Entretanto, a postura de João Campos dentro do partido tem sido de resistir a essa reaproximação. Publicamente, o socialista defende uma candidatura própria em 2022, e sabe-se que ele também não descarta um apoio ao presidenciável Ciro Gomes (PDT), que esteve no Recife para participar da reta final de sua campanha. Nos bastidores, observou-se que o prefeito estava constrangido e falou muito pouco durante o jantar oferecido pelo governador Paulo Câmara, ao ex-presidente Lula, no domingo. Diferentemente do chefe do Executivo estadual que em sua fala de abertura teceu diversos elogios ao ex-presidente Lula, destacando as ações do seu governo no Estado.
Para o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania), a "briga entre PT e PSB" não passa de uma fraude. "Que era só uma estratégia para vencer a eleição do Recife. Vão se juntar agora e se for conveniente, rompem de novo à medida que pesquisas de opinião flutuam. Um grande teatro não só do PSB, mas do que fingem agora ser Lula desde sempre”, disparou o parlamentar.
Já Antonio Coelho aposta em uma frustração dos eleitores de João ao testemunharem a reaproximação do socialista com a principal liderança do PT. "Isso é um sinal de que a gestão municipal do Recife seria uma gestão de centro e que na verdade está indo cada vez mais para a esquerda, está se perdendo nessa radicalização ideológica. E o PT, um pragmatismo absoluto que está fazendo as pazes com uma outra força política que falou coisas publicáveis e impublicáveis durante a eleição do ano passado", afirmou.